segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Simulacro de mim

Ontem minha sombra se alterou
em fantasias pictóricas
pintada por Picasso
transformando-me num terrível espectro
sem rima, sem dor, sem vazio,
verdadeira sombra de mim,
um outro imaginário,
desvairada poesia sem sintonia lírica
que foge, que venera, que mata,
que surrupia almas e criatividade.
Estátua de bronze que não permite
enxergar a realidade obscura do outro.
Identidade versus alteridade
na mesma concha acústica.
Meu fantasma delirante
segue na penumbra da noite
em busca do seu eu roubado,
totalmente dissimulado
para causar frissons
na ação da voz performática.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Elucubrações

Meditei,
pensei,
ponderei,
maturei
e criei
novas ações poéticas,
sem uniforme vocabular
para dedicar-me
ao repouso intelectual
para mostrar
o encontro da matéria
com o espírito,
numa simbiose sem fim.
Trabalhando à luz,
de noite,
numa tensa e intensa vigília,
sem oração subordinada,
conjecturando palavras coordenadas,
especulando um novo mundo,
costurando uma nova ação verbal.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mundo sem nexo

Um mundo mirabolante rodopiava
contra a ficção:
o lobo mal passa a ser bom.
Não há limite na sua interpretação,
pois tais ideias não têm suporte no texto.
Um cenário dos Anos 60 é montado.
Todos os homens usam brilhantina nos cabelos
e todas mulheres saias rodadas com bolinhas
com cores sortidas.
Grande visão hermenêutica de seus criadores!
Esplendorosa demais!
Já pensou em mudar os hábitos?
De local? Sua imagem? Seu cosmo?
A filosofia tem um parentesco
com o inteligível universo de Cossuta.
A Ciência corre numa certa cena discursiva,
pois cada autor tem sua própria forma
de entender a linguagem.
Nossa! Quanta complexidade, Lector!
Exige muita interpretação
da própria linguagem,
pouco a pouco,
ao se tornar uma verdadeira tecelã
do universo próprio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Meu Mel

A nossa canção
lembrou-me de um grande tango.
Aproxime de mim novamente
para saborear teus beijos,
para mordiscar teu corpo
e me apetecer do favo de mel
que há escondido na doçura
de teus abraços.
Não vou suportar o adeus
nem a solidão,
pois isso me mataria aos poucos
e sem tua presença
enlouqueceria de vez.
Não me entregue ao desamor,
ao dissabor, à mágoa,
à ausência de mim
e ao pior do que sou.
Não estrague a construção
de nossas sinestesias amorosas,
com tuas indiferenças
já que um pedacinho
bom de mim
se metamorfoseou
e se multiplicou em amor.
Mas confesso
que tenho medo do escuro.
Não me penalize
se estou em teu encalço,
que brincamos de polícia e ladrão
ou de gato e rato,
que nos encontramos
em hemisférios distantes.
Não me ponha em poder de outrem,
pois se me abandonar
sucumbirei paulatinamente
e nossas belíssimas
metáforas se desmancharão.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Retórica amordaçada





Se eu fechar os meus lábios
você abre seu coração?





quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Haicai sem nome


Permaneço mudo
para observar devagar
sua grande eloquência.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Engendrando rima


Voa fumaça
fazendo arruaça
bem ligeiro
correndo veloz
enquanto guerreiro
para ser porta-voz
de uma obra-prima
na construção de uma rima.
Ai, seu artista
pinte um quadro de um saxofonista
tocando uma valsa
nada falsa
numa leve melodia
suave biografia
causando euforia
numa platéia gigantesca
ornada numa imagem pitoresca.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

No meio do jardim

No meio do jardim tinha uma rosa
tinha uma rosa no meio do jardim
tinha uma rosa
no meio do jardim tinha uma rosa.


Nunca quis regá-la todos os dias
nem mesmo contemplar tamanha visão.
Nunca imaginei que a arrancaria no meio do jardim
tinha uma rosa
tinha uma rosa no meio do jardim
no meio do jardim tinha uma rosa.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Haicai traiçoeiro





Na palma das mãos
o nojento pernilongo
morrera sem sorte.





sábado, 19 de fevereiro de 2011

O lápis e eu

Escrever-te-ei a lápis
para os borrões serem apagados
diante de minhas retóricas.
Busco a essência dos enamorados
e a função do lápis é não dificultar
a tinta que não há.
Metáforas tornam-se transportes
para um universo ideal feito de papel.
Algo pertinente nele adentra em mim,
mostrando tensas loucuras insanas,
jamais devassa!
Mesmo não sendo
“concha, berilo, esmeralda”
tudo se cicatriza,
tudo se desenha,
tudo se tece:
a magia e a fantasia ganham vida,
tornando-se soberanas rainhas da imaginação.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

VADE RETRUM

Tudo se encontra inerte,
sem vida, sem entusiasmo,
sem combustível,
sem plumas e paetês,
sem carnaval,
mas do jeito que o diabo gosta:
frenesi em cores
e a libido valsando
entremeada de fantasias,
pirando, endoidecendo,
insanidade pura,
contornando
por entre neurônios nervosos
tenazmente,
tornando formas bizarras
e sem criação,
eloquentemente,
um verdadeiro
descarrego espiritual.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Novo chacra cardíaco

Circula uma energia vital nesta poesia,
trazendo o corpus da linguagem poética
emanando fluídos positivos,
engendrando uma nova performance vocal,
disfarçada no signo da letra.
Ouço sua voz bradando entre as montanhas
no seu fazer lectativo:
pura poética e nostalgia efêmera!
Contos quase de fadas
pairando em mim
uma doce e forte emoção parnasiana
de admiração e poder hipnótico contagiante
no meu chacra cardíaco,
que me balança,
que me inspira a ler,
a viajar neste rio caudaloso
em direção ao oceano.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Abonança friburguense

Mesmo com a tempestade de dor,
com os balões subindo no céu,
com as lágrimas derramadas,
com a solidão e o desespero,
com a ausência de palavras poéticas,
com a morte do ser amado,
com a cidade diante do caos,
com o abraço meio que apertado,
com o sofrimento em excesso
rasgado pela falta de luz
no meio do caminho,
temos que acreditar
no milagre e na ação divina.
Agora chegou o momento
de se erguer de metáforas
e reconstruir novos alicerces literais,
de concretizar melhorias sociais
e se fazer pão entre os homens,
na poesia, na musicalidade
e no novo lar friburguense.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Oitava VIII

O vazio é replantado outra vez.
O solo encontra-se fértil
para germinar graúdos e bons frutos
que me fizeram retornar à vida,
à canção, ao amor, dim dom!
E todas as sementes transformaram-se
nas mais doces palavras, até hoje não ditas
pelas pessoas que se propuseram a isto: oitavar poesia.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Oitava VII

O sol bate no relógio de brinquedo.
Alguém mostra meu retrato num pretérito longínquo.
Maria, Ester, Rute são mulheres
que amaram com fervor
e desesperadamente se entregaram ao Amor,
martirizando-se poeticamente
para se tornarem inesquecíveis
e inigualáveis pescadoras de homens.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Oitava VI

Abro os livros de histórias infantis
e me reencontro dentro deles.
Algo de maravilhoso mexe em meus cabelos.
Arrepiadamente percebo a doce Branca de Neve
acariciando-me e oferecendo-me
torta de maçã.
Vejo no espelho mágico um reflexo que não é o meu
e deliro em fantasias mirabolantes.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Oitava V

Ouço o trem apitando
e sussurrando os barulhos dos vagões,
alguém deixa cair no chão
sementes de pipoca.
Os pombos alvoroçados voam ligeiros
para saboreá-las.
Crianças espantam-nos
correndo em busca deles.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Oitava IV

Durmo.
As atribulações são bananas maduras
– quando bem preparadas –
pois enfeitiçam dolorosamente os grandes amores.
Uma cigana lê minha mão e diz meu futuro.
Olho depois para uma pintura
e descubro que faltam cores
para dar margens a sonhos inesquecíveis.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Oitava III

Olho para o mar
e vejo a escuridão imunda penetrando
as suas profundezas sombrias.
Angústia, desespero e aflições inundam
a bela praça que traz a mulher que passa.
De perto,
a música toca
com seus violões que choram.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Oitava II

Meus lábios estremecem com tons soberbos.
Firo-me com espinhos pontiagudos
que abjuram hipocritamente.
Desvio de todas as propostas terroristas
para ludibriar a canção dos pardais.
Algo pedregoso aniquila as raízes das plantas
para castigar os marginalizados
que sofrem sem ideologias para viver.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Oitava I

Fecho os olhos
e percebo várias sementes jogadas no chão.
De longe,
os ouvidos captam uma música.
Singelamente a melodia varre minha angústia.
Algo começa a vagar em minha mente...
Sinto os corações de pedra a maltratar-me
e repudiar cada grão comido pelos pássaros.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Lectando-se em seu primeiro espaço festa

Parece que foi ontem que Lectando-me nasceu, cresceu e desenvolve-se à medida que os vocábulos se juntaram para formar processos de leituras inexplicáveis. Escrever neste período de um ano virou válvula de escape a fim de que as emoções, sentimentos enraizados fluam e se libertem daquilo que os acorrentam.
Caríssimo leitor, como é bom encontrar-me junto de ti e saber que a obra de Umberto Eco (Lector in Fábula) bradou por meio de uma pequena criatividade o nome deste blog.
Sinto que a voz que há dentro de mim almeja falar, clamar, reclamar, declamar, proclamar, aclamar horizontes semânticos e sinestésicos que surjam da alma. Por isso, lectar-me-ei em todos os tempos verbais e em todos os tons minhas tessituras imagéticas.
Com efeito, não é fácil se expressar em letras, não é fácil se redesenhar e criar falares dignos de um bom heterônimo, não que eu seja um, mas o eu-lírico sente, deseja, apaixona-se, peca, destrói-se com facilidade, constrói algo novo ou se reinventa, já que muita coisa já foi dita por grandes pensadores e escritores.
A cada dia que passa, me liberto e me entusiasmo em temas ecléticos, passivo de erros para me contagiar e me emocionar ou para me deprimir num narrador poético que ultrapasse a sensibilidade, os falares e o próprio silencio. Silenciar também faz parte para se modelar, para amadurecer e se aproximar de Deus num imenso deserto com 30 flores, uma para cada dia do mês. Será que há em meus textos algum simulacro de autobiografia? Quem sabe. Não sei se há, no entanto confesso que tive grandes inspiradores para textos que jamais pensei escrever.
Queria, enfim, ser original, falar com os anjos, escrever textos para uma comunidade de leitores e me aprimorar naquilo que se publica diariamente. Embora nem sempre a realidade nos permita tamanha façanha, há uma tríplice aliança aqui neste blog formada por um autor-texto-leitor que faz da teoria da recepção de Jauss adentrar num espaço que provoca algum efeito literal ou metafórico. Eu sei que há um efeito. Mesmo que seja para sorrir ou para depreciar com palavras ou silencio.















Hoje, portanto, descubro que a função conativa e emotiva da linguagem é de grande importância para a construção de um blog.
Espero ainda, algum dia, conseguir um desenhista para fazer o logotipo deste blog a fim de que no próximo ano ele esteja com outro designer gráfico ou com sua marquinha estampada nas poesias.
Assim, pretendo continuar com cada expectador e poder te entregar um pouco do que não sou, o melhor e o pior do que sou, reinventando situações, engendrando conhecimentos para aprimorar e aprender sempre com que está ao meu redor. Parabéns a cada leitor, cada lector, que resolveu conjugar algum momento de leitura e poesia neste meu universo pictórico.
A cada LECTOR, meu terno e forte abraço.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Anúncio Poético

Vende-se pequeno toque
visceral
que coreografa palavras,
desejos íntimos,
vocábulos rimados
para uma grande noite de amor.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Desvanecer poético

Apagou a luz,
dissipou o medo,
perdeu o ânimo e se embriagou,
espalhou fome e miséria de leitura
e palavras foram jogadas ao vento,
derramou um cálice de vinho rose em cima da cama,
cuja fronha do travesseiro encheu-se de mácula,
infringiu o ódio,
mas desanimou em perdoar.
Fugiu para o Egito
e se manifestou contra a tirania do presidente atual.
Não obstante, se igualou a ele,
teve inveja dele e se tornou igual:
fechou portas para a economia,
ordenou que matassem pessoas,
quebrou a promessa de paz,
desasnou-se completamente
por arruinar a literatura.
Brigou com a Poética de Aristóteles,
saqueou os poemas de Píndaro,
desconfigurou a matemática de Pitágoras,
guerreou com Palas Atenas,
esqueceu da filosofia socrática,
negou o positivismo de Augusto Comte,
teve problemas patológicos por não aderir a Husserl,
considerado o Pai da Fenomenologia.
Lutou, no entanto, por uma nova visão hermenêutica;
Infelizmente os poetas saquearam seu saber,
usurparam a tragicomédia para evanescer pensamentos
e riquezas sentimentais.
Clonaram-no e cortaram-no em pedaços
para fazer experimentos laboratoriais.
E os vocábulos desmaiaram,
tornaram-se oração sem sujeito
para ser o adjunto adverbial
de um verbo sem complemento,
intransitivo,
prolixo,
mas com concatenação textual
a fim de inspirar desvanecimento.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Poetrix Lascivo

Travessuras sexuais a troi
com libidinosos apetrechos e acessórios quase poéticos
fazem meus pensamentos pecarem.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Classificados poético-textuais

Procura-se desesperadamente
por um novo tipo de poesia,
por algo que remexa os sentimentos
e transforme humanos em novos aprendizes.


Procura-se um texto com um novo teor semântico,
que haja ressaibos divertidos e coloridos,
que surpreenda o leitor de raiva ou de alegria,
que toque trombetas ou guitarras,
que saiba falar, contagiar
e transmitir algum sintoma de ambivalência
entre o eu e o outro.


Procura-se por um vocábulo de riso,
que dê gargalhadas feito palhaço de circo,
que seja mirabolante, mágico e extrovertido,
mesmo que apareça a famosa alteridade
sempre terá momentos gramaticais intensos
a fim de unir a sapiência à criatividade
de quem produz o melhor de si:
a orquestra da leitura daquilo que se deseja conseguir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Momento Alexander

Um pouco de conhaque
para transformar o sóbrio em ébrio
e encher de alucinações, desejos íntimos
e inexoráveis paixões.
Para dar mais sabor
acrescente versos nus com licor de cacau
pois é o ingrediente certo para enfeitiçar amores.
Não se esqueça de gelo e de entusiasmo
para criar tessituras de enlouquecimento, ciúme
e grandes momentos de êxtase.
Para apimentar as ideias,
misture creme de leite
com rock in roll
e muita agitação efêmera
e contagiante poesia
explodirão de felicidades fugazes.
Agite muito com as mãos a coqueteleira
a fim de que emirja loucura, insanidade
e beleza transexual.
Aposto que tudo ficará a flor da pele,
carne diante de carne,
ossos fluirão de emoções e prazeres loucos
e desta mistura nascerá a grande bebida:
ALEXANDER, o possuidor de corações, almas e divindades.
Aquele que destrói e faz cambalear
profundos atos obscenos,
por meio de um cenário escalafobético,
mágico e de outra dimensão.
Venha ser meu doce vampiro, Alexander!
A intensa tônica das bebidas fashions.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Willian Shakespeare

Intelecto domínio da mente
Nos grandes Dramas frutos da natureza inconsciente
A arte do artifício, que escritor ciente!
São tão profundos quanto sua imaginação quente,


As últimas gerações de homens acharão novos significados,
Novas elucidações sobre seus próprios seres humanos
Afinados com o mais alto poder construído pelos povos romanos;
Novas harmonias com a infinita estrutura dos universos milimetrados.


Concorrências com idéias posteriores. Merece até uma meditação!
É o mais alto prêmio da sapiência, para uma verdadeira, simples, grande alma,
Para que esse consiga assim ser uma parte da mesma resta poetização.


Como o carvalho cresce no seio da Terra, com calma,
Com uma simetria baseada em leis, em descrição,
Pois, falar é grande, mas o silêncio é maior; e que bata palma.