segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Coalhado

Há quem diga que este é o fim
de um momento estupefato,
prazeroso, contagiante
e repleto de sonoridade.
Chegou a hora da querida festa,
de lermos poesias românticas,
piegas e sentimentais.
Vejo meus pensamentos sendo lidos,
contados, analisados
e quase dominados pelos açoites da informação.
Esta ultrapassa as barreiras da tecnologia.
Agora é tempo de ser feliz,
de se entregar de corpo e alma à vida,
ao amor, à juventude, ao poema,
ao soneto, ao haicai, à liberdade de viver:
porque quem constrói nossa própria história
somos nós mesmos.

sábado, 22 de outubro de 2011

Temperando algo

Tempero para um novo dia
Onde há gosto para tudo
Onde a teoria abraça a prática
Na diversidade de comunicação.
Não há reação nem mostra literária
Para apresentar um novo saber.
Há uma busca intrínseca
Que se metamorfoseia constantemente
Sem destreza e sem conexão
Tudo é performance, diversão e arte
Na nova mania de amar
No novo meio de ver o mar,
Na singeleza das coisas fugidias,
Devolvidas numa fina estampa
Parafraseando vazios e nada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Jogo íntimo

As vozes cambaleiam
numa espécie de peripécias,
incomodam-me.
mas não afugentam
o brilho do olhar
jogado ao vento,
sua opinião paira
junto a minha,
numa perfeita simbiose elástica
que reflete o in dúbio,
o prazer,
o jogo íntimo da literatura
humana em nós.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Retratação

palavras sacodem com dificuldades,
efervescem constantemente,
justificam-se
e aprimoram-se em demasia,
almejam consolo temporário,
acalentam a dor,
vislumbram a mulher que passa,
a Mulher de Vinícius,
aquela que se encontra deitada na grama
do inesquecível Drummond,
aquela que se encontra presente
no neo-simbolismo de Cecília,
e no neo-realismo acolhedor de Raquel de Queiroz,
tudo se molda
e se esconde febrilmente
nas testas quase doentes
de um mero acontecimento,
através de letras minúsculas
tudo se constrói,
assim vocábulos se retratam
para aprimorar os constantes
devaneios da alma.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Oblação poética

Ofertar-te-ei uma rosa
entremeada de sinestesias
e de abraços apertados
de carinhos sublimados,
com delicados pedaços
de algodão doce
vindo do Céu.

Oferecer-te-ei meu amor
regado de mel
para sentires o meigo sabor
de uma linguagem mais trabalhada,
pois tudo se renova,
numa fonte cristalina,
de devaneios e enleios poéticos.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Oitavando

O dilema do oito começou,
já que ele não se foi
nem concretizou desejos insanos e sombrios.
Embora tudo seja fugaz,
há situações que não passam.
Vozes do além impõem regras,
ditam normas
e falam de justiça
(ou falsa moralidade).

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Momentos enfadonhos

Estamos fadados de emoções
e o entusiasmo bate à porta do coração.
Tento dizer “Olá!”, “Tudo bem?”
mas me emudeço pouco a pouco
e a coragem se esvai lentamente.
Quero gritar
na ronda
na louca onda
repleta de sal.
Estamos desacreditados de sentimentalismo.
O cérebro eletrônico ora por nós,
escuta-nos metafisicamente
numa distância exorbitante.
Tudo é mecânico, repetitivo e contrito,
mas mesmo assim me perco na escuridão.
Grande e tenso enfado!

sábado, 8 de outubro de 2011

Cifra policial

Diálogos intermináveis,
falácias de acusações
durante a longa madrugada
com Peres e Tardin.
Há um remelexo entre a própria P2:
mórbida loucura
via escutas,
lábio colando lábios
estremecem a sonoridade das coisas.
Quanta leitura se organiza
a trinta metros de distância!
Tudo é insano,
ioiô sem cordas,
poesia sem verso,
música sem acorde
na hora do pesadelo da regra dos três,
pois somente sobra os zeros
na prova dos nove.
Hoje não há arranjo político
nem apolítico
no acordo, nas palavras,
nos abusos das ideias complexas,
nas falas dadaístas
de um mero feijão com arroz.
Agora não há ritmo,
nem beijo gay molhando a boca,
nem nádegas ao vento,
nem pênis a solta balançando ereto.
Ainda tudo é fugaz
na perseguição de gato e rato,
de uma cantata original e melódica
parafraseando missionários e grandes letrados.
Vamos ao inferno astral?
Vamos cair em tentação
mais uma vez?
Amadurecendo os xingos,
minhocando sentimentos naturalistas,
recitando uma poderosa condenação literária.
Assim, de falso cordel
procedem os loucos,
os tolos também invadem computadores
para furtar novos prazeres alucinantes.
De repente a rima se perdeu
e os versos longos e livres
envolveram uma métrica cifrada
na delegacia de outrora.
Assim, tudo se esvai com o tempo...