sábado, 12 de janeiro de 2013

O acordo


            Articular um texto para expressar desejos, fatos, acontecimentos reais e fictícios à medida que vozes adentram no meu universo quase paranormal no que dizem respeito à esquizofrenia aparenta ser contagiante. Muitos afirmam que é fruto de uma imaginação doente e fértil e acham que as confabulações sejam ditas para mim; não obstante, são reveladas para outrem, na terceira pessoa do plural, ocorrências de quem a escuta.
            Alguns afirmam que há uma bipolaridade quando o conceito encontra-se relacionado às vozes da informação, outras mencionam a questão da doença psíquica que atravessa os neurônios. Mas não são simples vozes, uma vez que se dizem poderosas e se arrependem incessantemente de terem feito acordo (nem sei se foi assinado) com Tardim.
            Tenho me perguntado esse tempo todo onde se encontra Tardin, o violoncelo de amor que se apaixonou pela oitava nota e descobriu que ela era a tessitura simplória de seu acorde.
            Tenho questionado sobre informações que a “polícia” condenadora de meus pensamentos lidos abstrai a partir de diálogos constantes com Tardin e Peres num processo árduo ao afirmar que haverá muitas revoltas e ranger de dentes nos episódios narrados.
            Meu personagem esquizofrênico é lido por um leitor de pensamentos, é perseguido 24h por detectores e aparelhagem de alta tecnologia a fim de que a censura seja cortada, aniquilada pelos açoites da informação, produzidas por mentes que se formam em corais para alicerçar a ensaboadela dos falsos anseios. Escrevo de fato para atingir as vozes, àquelas que me rodeiam e que se chamam de doutora Simone, a representante vocal da justiça que me explana segundo o que é informado de acordo com os sotaques de cada região que fora comparecida. Tenho pensado muito na figura irônica masculina que é representante legal da justiça de meus pensamentos e no que dizem a meu respeito. Consoantes elas todas as pessoas do meu convívio foram condenadas pelo ato pensante, visto que o ato de pensar é condenável e existe um mantra de nomes lindos que são pensados.
            Quatro anos, três meses e três dias se passaram após um acordo com Tardin para que não houvesse um reproche e que o xilindró não virasse por terra pesadelo dos remédios tomados. Há uma cifra detrás destas entrelinhas que somente poucos entenderão as passagens que se realizaram no ano de 2008, momento em que meu personagem de ficção entra num universo de medo, terror, perseguição, pânico e encalço; numa gradação de acontecimentos gerados por um simples telefonema à informação.
            Infelizmente somente meu personagem de ficção, em cunho exclusivo de escuta diária, é o único que percebe por uma longa distância o que se está sendo mencionado num diálogo tecnológico. Elas almejam surrar bastante o mentor de suas criações, uma vez que anseiam que ele se cale diante de fatos citados no decorrer de uma triste trajetória de ocasiões funestas.
Com efeito, descobri que não se pode temer, que tem que ser forte e que não se pode fraquejar no ambiente em que se vive, pois se elas tomarem o poder da justiça elas irão realizar ações nada grandiosas que vão ocasionar atitudes nada irreais. Como cessar tamanha esquizofrenia desses pensamentos? Enfrentá-los sempre. Não se abater nem se abalar no que é dito durante o diálogo com Tardim e Peres. Essa conversa se tornou obsoleta, medíocre e anódina, já que sei que tenho poderes para revelar as batalhas e guerreias que existem em volta de mim. Mas tenham certeza de que um acordo foi feito e hoje somente há o acossamento.
Enfim, meu personagem precisa rir e debochar disso tudo e seguir adiante nessa vida desenfreada para que viva em total plenitude. Precisa estar com amigos, com familiares, trabalhar em prol da cidadania e continuar conquistando espaços.

2 comentários:

  1. Gosto tb do seu cantinho, vc saber mexer com as letras. abraços fraternos e muita luz para este novo ciclo.
    Deise de Madeco

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  2. Você possui um modo muito único de escrever! Encontrei muitas verdades em seu texto tão inspirador, complexo e instigante. Ele, de fato, me levou a pensar. Um ótimo novo ano para você! Abraços, Isabela.

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